JESUS NO LAR

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Livro On line
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A Coroa e as Asas

Comentava-se, na reunião, as glórias do saber, quando o Cristo, para ilustrar a palestra, contou, despretensioso:
— Um homem amante da verdade, informando-se de que o aprimoramento intelectual conduz à divina sabedoria, atirou-se à elevação da montanha da ciência, empenhando todas as forças que possuía no decisivo cometimento. A vereda era sombria qual obscuro labirinto; contudo, o esforçado lidador, olvidando dificuldades e perigos, avançava sempre, trocando de vestuário para melhor acomodar-se às exigências da marcha. De tempos a tempos, lançava à margem da estrada uma túnica que se fizera estreita ou uma alpercata que se lhe afigurava inservível, procurando indumentária nova, até que, um dia, depois de muitos anos, alcançou a desejada culminância, onde um representante de Deus lhe surgiu ao encontro.
O emissário cumprimentou-o, abraçou-o e revestiu-lhe a fronte com deslumbrante coroa de luz. Todavia, quando o vencedor do conhecimento quis prosseguir adiante, na direção do Paraíso, recomendou-lhe o mensageiro que voltasse atrás dos próprios passos, a ver o trilho percorrido e que, de sua atitude  na revisão do caminho, dependeria a concessão de asas com que lhe seria possível voar ao encontro do Pai Eterno.
O interessado regressou, mas, agora, auxiliado pela fulgurante auréola de que fora investido, podia contemplar todos os ângulos da senda, antes inextricável ao seu olhar.
Não conteve o riso, diante das estranhas roupagens de que os viajadores da retaguarda se vestiam.
Aqui, notava uma túnica rota; acolá, uma sandália extravagante. Peregrinos inúmeros se apoiavam em bordões quebradiços, enquanto outros se amparavam em capas misérrimas; entretanto, cada qual, com impertinência infantil, marchava senhor de si, como se envergasse a roupa mais valiosa do mundo.
O vencedor da ciência não suportou as impressões que o quadro lhe causava e abriu-se em frases de zombaria, reprovando acremente a ignorância de quantos seguiam em vestes ridículas ou inadequadas. Gritou, condenou e fez apodos contundentes. Dirigiu-se à comunidade dos viajantes com tamanha ironia que muitos renunciaram à subida, retornando à inércia da planície vasta.
Após amaldiçoar a todos, indistintamente, voltou o herói coroado ao cume do monte, na expectativa de partir sem detença ao encontro do Pai, mas o Anjo, muito triste, explicou-lhe que a roupagem dos outros, que lhe provocara tanto sarcasmo inútil, era aquela mesma de que ele se servira para elevar-se, ao tempo em que era frágil e semicego, e que as asas de luz, com que deveria erguer-se ao Trono Divino, somente lhe seriam dadas, quando edificasse o amor no imo do coração. Faltavam-lhe piedade e entendimento; que ele voltasse demoradamente ao caminho e auxiliasse os semelhantes, sem o que jamais conseguiria equilibrar-se no Céu.
Alguns minutos de silêncio seguiram-se indevassáveis...
O Mestre, todavia, imprimindo significativa ênfase às palavras, terminou:
— Há muitas almas, na Terra, ostentando a luminosa coroa da ciência, mas de coração adormecido na impiedade, salientando-se no sarcasmo pueril e na censura indébita. Envenenadas pela incompreensão, exigentes e cruéis, fulminam os companheiros mais fracos no entendimento ou na cultura, ao invés de estender-lhes as mãos fraternais, reconhecendo que também já foram assim, tateantes e imperfeitos... Enquanto, porém, não se decidirem a ajudar o irmão menos esclarecido e menos afortunado, acolhendo-o no próprio espírito, com sinceridade e devotamento, não receberão as asas com que lhes será lícito partir na direção do Céu.
Livro JESUS NO LAR – Cap. XIV - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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O Revolucionário Sincero

 No curso das elucidações domésticas, Judas conversava, entusiástico, sobre as anomalias na governança do povo, e, exaltado, dizia das probabilidades de revolução em Jerusalém, quando o Senhor comentou, muito calmo:
— Um rei antigo era considerado cruel pelo povo de sua pátria, a tal ponto que o principal dos profetas do reino foi convidado a chefiar uma rebelião de grande alcance, que o arrancasse do Trono.
O profeta não acreditou, de início, nas denúncias populares, mas a multidão insistia. “O rei era duro de coração, era mau senhor, perseguia, usurpava e flagelava os vassalos em todas as direções” — clamava-se desabridamente.
Foi assim que o condutor de boa-fé se inflamou, igualmente, e aceitou a idéia de uma revolução por único remédio natural e, por isso, articulou-a em silêncio, com algumas centenas de companheiros decididos e corajosos. Na véspera do cometimento, contudo, como possuía segura confiança em Deus, subiu ao topo dum monte e rogou a assistência divina com tamanho fervor que um Anjo das Alturas lhe foi enviado para confabulação de espírito a espírito.
À frente do emissário sublime, o profeta acusou o soberano, asseverando quanto sabia de oitiva e suplicando aprovação celeste ao plano de revolta renovadora.
O mensageiro anotou-lhe a sinceridade, escutou-o com paciência e esclareceu: — “Em nome do Supremo Senhor, o projeto ficará aprovado, com uma condição. Conviverás com o rei, durante cem dias consecutivos, em seu próprio palácio, na posição de servo humilde e fiel, e, findo esse tempo, se a tua consciência perseverar no mesmo propósito, então lhe destruirás o trono, com o nosso apoio.”
O chefe honesto aceitou a proposta e cumpriu a determinação.
Simples e sincero, dirigiu-se à casa real, onde sempre havia acesso aos trabalhos de limpeza e situou-se na função de apagado servidor; no entanto, tão logo se colocou a serviço do monarca, reparou que ele nunca dispunha de tempo para as menores obrigações alusivas ao gosto de viver. Levantava-se rodeado de conselheiros e ministros impertinentes, era atormentado por centenas de reclamações de hora em hora. Na qualidade de pai, era privado da ternura dos filhos; na condição de esposo, vivia distante da companheira. Além disso, era obrigado, freqüentemente, a perder o equilíbrio da saúde física, em vista de banquetes e cerimônias, excessivamente repetidos, nos quais era compelido a ouvir toda a sorte de mentiras da boca de súditos bajuladores e ingratos. Nunca dormia, nem se alimentava em horas certas e, onde estivesse, era constrangido a vigiar as próprias palavras, sendo vedada ao seu espírito qualquer expressão mais demorada de vida que não fosse o artifício a sufocar-lhe o coração.
O orientador da massa popular reconheceu que o imperante mais se assemelhava a um escravo, duramente condenado a servir sem repouso, em plena solidão espiritual, porquanto o rei não gozava nem mesmo a facilidade de cultivar a comunhão com Deus, por intermédio da prece comum.
Findo o prazo estabelecido, o profeta, radicalmente transformado, regressou ao monte para atender ao compromisso assumido, e, notando que o Anjo lhe aparecia, no curso das orações, implorou-lhe misericórdia para o rei, de quem ele agora se compadecia sinceramente. Em seguida, congregou o povo e notificou a todos os companheiros de ideal que o soberano era, talvez, o homem mais torturado em todo o reino e que, ao invés da suspirada insubmissão, competia-lhes, a cada um, maior entendimento e mais trabalho construtivo, no lugar que lhes era próprio dentro do país, a fim de que o monarca, de si mesmo tão escravizado e tão desditoso, pudesse cumprir sem desastres a elevada missão de que fora investido.
E, assim, a rebeldia foi convertida em compreensão e serviço.
Judas, desapontado, parecia ensaiar alguma ponderação irreverente, mas o Mestre Divino antecipou-se a ele, falando, incisivo:
— A revolução é sempre o engano trágico daqueles que desejam arrebatar a outrem o cetro do governo. Quando cada servidor entende o dever que lhe cabe no plano da vida, não há disposição para a indisciplina, nem tempo para a insubmissão.
Livro JESUS NO LAR – Cap. XIII - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio

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Os Descobridores do Homem


 Finda a leitura de alguns trechos da história de Job, a palestra na residência de Simão versou acerca da fidelidade da alma ao Pai Todo-Poderoso.
Diante da vibração de alegria em todos os semblantes, Jesus contou, bem-humorado:
— Apareceu na velha cidade de Nínive um homem tão profundamente consagrado a Deus que todos os seus contemporâneos, por isso, lhe rendiam especial louvor. Tão rasgados eram os elogios à sua conduta que as informações subiram ao Trono do Eterno. E, porque vários Arcanjos pedissem ao Todo-Poderoso a transferência dele para o Céu, determinou a Divina Sabedoria fosse procurado, na selva da carne, a fim de verificar-se, com exatidão, se estava efetivamente preparado para a sublime investidura.
Para isso, os Anjos Educadores, a serviço do Altíssimo, enviaram à Terra quatro rudes descobridores de homens santificados — e a Necessidade, o Dinheiro, o Poder e a Cólera desceram, cada qual a seu tempo, para efetuarem as provas indispensáveis.
A necessidade que, em casos desses, sempre surge em primeiro lugar, aproximou-se do grande crente e se fez sentir, de vários modos, dando-lhe privações, obstáculos, doenças e abandono de entes amados; entretanto, o devoto, robusto na confiança, compreendeu na mensageira uma operária celeste e venceu-a, revelando-se cada vez mais firme nas virtudes de que se tornara modelo.
Chegou, então, a vez do Dinheiro. Acercou-se do homem e conferiu-lhe mesa lauta, recursos imensos e considerações sociais de toda sorte; mas o previdente aprendiz lembrou-se da caridade e, afastando-se das insinuações dos prazeres fáceis, distribuiu moedas e posses em multiplicadas obras do bem, conquistando o equilíbrio financeiro e a veneração geral.
Vitorioso na segunda prova, veio o Poder, que o investiu de larga e brilhante autoridade. O devoto, contudo, recordou que a vida, com todas as honrarias e dons, é simples empréstimo da Providência Celestial e usou o Poder com brandura, educando quantos o rodeavam, por intermédio da instrução e do trabalho bem orientados, recebendo, em troca, a obediência e a admiração do povo entre o qual nascera.
Triunfante e feliz, o crente foi visitado, enfim, pela Cólera. De maneira a sondar-lhe a posição espiritual, a instrutora invisível valeu-se dum servo fraco e ignorante e tocou-lhe o amor próprio, falando, com manifesta desconsideração, em assunto privado que, embora expressão da verdade, constituía certo desrespeito a qualquer pessoa de sua estatura social e indiscutível dignidade.
O devoto não resistiu. Intensa onda sangüínea lhe surgiu no rosto congesto e ele se desfez em palavras contundentes, ferindo familiares e servidores e prejudicando as próprias obras. Somente depois de muitos dias, conseguiu restaurar a tranqüilidade, quando, porém, a Cólera já lhe havia desnudado o íntimo, revelando-lhe o imperativo de maior aperfeiçoamento e notificando ao Senhor que aquele filho, matriculado na escola de iluminação, ainda requeria muito tempo, na experiência purificadora, para situar-se nas vibrações gloriosas da vida superior.
Curiosidade geral transparecia do semblante de todos os presentes, que não ousaram trazer à baila qualquer nova ponderação. Estampando no rosto sereno sorriso, o Cristo terminou:
— Quando o homem recebe todas as informações de que necessita para elevar-se ao Céu, determina o Pai Amoroso seja ele procurado pelas potências educadoras. A maioria dos crentes perdem a boa posição, que aparentemente desfrutavam, nos exercícios da Necessidade que lhes examina a resistência moral; muitos voltam estragados das sugestões do Dinheiro que lhes observa o desprendimento dos objetivos inferiores e a capacidade de agir na sementeira do bem; alguns caiem, desastradamente, pelas insinuações do Poder que lhes experimenta a competência para educar e salvar os companheiros da jornada humana, e raríssimos são aqueles que vencem a visita inesperada da Cólera, que vem ao círculo do homem anotar-lhe a diminuição do amor próprio, sem a qual o espírito não reflete o brilho e a grandeza do Criador, nos campos da vida eterna.
O Mestre calou-se, sorriu compassivamente, de novo, e, porque ninguém retomasse a palavra, a reunião da noite foi encerrada.
Livro JESUS NO LAR – Cap. XII - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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20 junho Jesus e os discipulos.jpg

O Santo Desiludido

Inclinara-se a palestra, no lar humilde de Cafarnaum, para os assuntos alusivos à devoção, quando o Mestre narrou com significativo tom de voz:
— Um venerado devoto retirou-se, em definitivo, para uma gruta isolada, em plena floresta, a pretexto de servir a Deus. Ali vivia, entre orações e pensamentos que julgava irrepreensíveis, e o povo, crendo tratar-se de um santo messias, passou a reverenciá-lo com intraduzível respeito. Se alguém pretendia efetuar qualquer negócio do mundo, dava-se pressa em buscar-lhe o parecer. Fascinado pela alheia consideração, o crente, estagnado na adoração sem trabalho, supunha dever situar toda gente em seu modo de ser, com a respeitável desculpa de conquistar o paraíso.
Se um homem ativo e de boa-fé lhe trazia à apreciação algum plano de serviço comercial, ponderava, escandalizado:
— É um erro. Apague a sede de lucro que lhe ferve nas veias. Isto é ambição criminosa. Venha orar e esquecer a cobiça.
Se esse ou aquele jovem lhe rogava opinião sobre o casamento, clamava, aflito:
— É disparate. A carne está submetendo o seu espírito. Isto é luxúria. Venha orar e consumir o pecado.
Quando um ou outro companheiro lhe implorava conselho acerca de algum elevado encargo, na administração pública, exclamava, compungido:
— É um desastre. Afaste-se da paixão pelo poder. Isto é vaidade e orgulho. Venha orar e vencer os maus pensamentos.
Surgindo pessoa de bons propósitos, reclamando-lhe a opinião quanto a alguma festa de fraternidade em projeto, objetava, irritadiço:
— É uma calamidade. O júbilo do povo é desregramento. Fuja à desordem. Venha orar subtraindo-se à tentação.
E assim, cada consulente, em vista da imensa autoridade que o santo desfrutava, se entristecia de maneira irremediável e passava a partilhar-lhe os ócios na soledade, em absoluta paralisia da alma.
O tempo, todavia, que todo transforma, trouxe ao preguiçoso adorador a morte do corpo físico.
Todos os seguidores dele o julgaram arrebatado ao Céu e ele mesmo acreditou que, do sepulcro, seguiria direto ao paraíso. Com inexcedível assombro, porém, foi conduzido por forças das trevas a terrível purgatório de assassinos. Em pranto desesperado indagou, à vista de semelhante e inesperada aflição, dos motivos que lhe haviam sitiado o espírito em tão pavoroso e infernal torvelinho, sendo esclarecido que, se não fora homicida vulgar na Terra, era ali identificado como matador da coragem e da esperança em centenas de irmãos em humanidade.
Silenciou Jesus, mas João, muito admirado, considerou:
— Mestre, jamais poderia supor que a devoção excessiva conduzisse alguém a infortúnio tão grande!
O Cristo, porém, respondeu, imperturbável:
— Plantemos a crença e a confiança entre os homens, entendendo, entretanto, que cada criatura tem o caminho que lhe é próprio. A fé sem obras é uma lâmpada apagada. Nunca nos esqueçamos de que o ato de desanimar os outros, nas santas aventuras do bem, é um dos maiores pecados diante do Poderoso e Compassivo Senhor.

Livro JESUS NO LAR – Cap. XI - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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O juiz reformado

Como houvesse o Senhor recomendado nas instruções do dia muita cautela no julgar, a conversação em casa de Pedro se desdobrava em derredor do mesmo tema.
— É difícil não criticar — comentava Mateus, com lealdade —, porque, a todo instante, o homem de mediana educação é compelido a emitir pareceres na atividade comum.
— Sim — concordava André, muito franco —, não é fácil agir com acerto, sem analisar detidamente.
Depois de vários depoimentos, em torno do direito de observar e corrigir interferiu Jesus sem afetação:
— Inegavelmente, homem algum poderá cumprir o mandato que lhe cabe, no plano divino da vida, sem vigiar no caminho em que se movimenta, sob os princípios da retidão. Todavia, é necessário não inclinar o espírito aos desvarios do sentimento, para não sermos vitimados por nós mesmos. Seremos julgados pela medida que aplicarmos aos outros. O rigor responde ao rigor, a paciência à paciência, a bondade à bondade...
E, transcorridos alguns instantes, contou:
— Quando Israel vivia sob o governo dos grandes juízes, existiu um magistrado austero e violento, em destacada cidade do povo escolhido, que imprimiu o terror e a crueldade em todos os serventuários sob a sua orientação. Abusando dos poderes que a lei lhe conferia, criou ordenações tirânicas para a punição das mínimas faltas. Multiplicou infinitamente o número dos soldados, edificou muitos cárceres e inventou variados instrumentos de flagelação.
O povo, asfixiado por estranhas proibições, devia movimentar-se debaixo de severa fiscalização, qual se fora rebanho de bravios animais. Trabalharia, descansaria e adoraria o Senhor, em horas rigorosamente determinadas pela autoridade, sob pena de sofrer humilhantes castigos nas prisões, com pesadas multas de toda espécie.
Se bem mandava o juiz, melhor agiam os subordinados, cheios de natural malvadez.
Assim foi que certa feita, dirigindo-se o magistrado, alta noite à casa de um filho enfermo, foi aprisionado sem qualquer consideração por um grupo de guardas bêbedos e inconscientes que o conduziram a escura enxovia que ele mesmo havia inaugurado, semanas antes. Não lhe valeram a apresentação do nome e as honrosas insígnias de que se revestia. Tomado por temível ladrão, foi manietado, despojado dos bens que trazia e espancado sem piedade, afirmando os sentinelas que assim procediam, obedecendo às instruções do grande juiz, que era ele próprio.
Somente no dia imediato foi desfeito o equívoco, quando o infeliz homem público já havia sofrido a aplicação das penas que a sua autoridade estabelecera para os outros.
O legislador atribulado reconheceu então, que era perigoso transmitir o poder a subalternos brutalizados e ignorantes, percebendo que a justiça construtiva e santificante é aquela que retifica ajudando e educando, na preparação do Reinado do Amor entre os homens.
Desde a singular ocorrência, a cidade adquiriu outro modo de ser, porque o juiz reformado, embora prosseguisse atento às funções que lhe competiam, ergueu, sobre o tribunal, a benefício de todos, o coração de pai compreensivo e amoroso.
Lá fora, brilhavam estrelas, retratadas nas águas serenas do grande lago. Depois de longa pausa, o Mestre concluiu:
— Somente aquele que aprendeu intensamente com a vida, estudando e servindo, suando e chorando para sustentar o bem, entre os espinhos da renúncia e as flores do amor, estará habilitado a exercer a justiça, em nome do pai.


Livro JESUS NO LAR – Cap. X - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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O mensageiro do amor

Falava-se na reunião, com respeito à preponderância dos sábios na Terra, quando Jesus tomou a palavra e contou, sereno e simples:
— Há muitos anos, quando o mundo perigava em calamitosa crise de ignorância e perversidade, o Poderoso pai enviou-lhe um mensageiro da ciência, com a missão de entregar-lhe gloriosa mensagem de vida eterna. Tomando forma, nos círculos da carne, o esclarecido obreiro fez-se professor e, sumamente interessado em letras, apaixonou-se exclusivamente pelas obras da inteligência, afastando-se, enojado, da multidão inconsciente e declarando que vivia numa vanguarda luminosa, inacessível à compreensão das pessoas comuns. Observando-o incapaz de atender aos compromissos assumidos, o Senhor Compassivo providenciou a viagem de outro portador da ciência que, decorrido algum tempo, se transformou em médico admirado. O novo arauto da Providência refugiou-se numa sala de ervas e beberagens, interessando-se tão somente pelo contato com enfermos importantes, habilitados à concessão de grandes recompensas, afirmando que a plebe era demasiado mesquinha para cativar-lhe a atenção. O Todo-Bondoso determinou, então, a vinda de outro emissário da ciência, que se converteu em guerreiro célebre. Usou a espada do cálculo com mestria, pôs-se à ilharga de homens astuciosos e vingativos e, afastando-se dos humildes e dos pobres, afirmava que a única finalidade do povo era a de salientar a glória dos dominadores sanguinolentos. Contristado com tanto insucesso, o Senhor Supremo expediu outro missionário da ciência, que, em breve, se fez primoroso artista. Isolou-se nos salões ricos e fartos, compondo música que embriagasse de prazer o coração dos homens provisoriamente felizes e afiançou que o populacho não lhe seduzia a sensibilidade que ele mesmo acreditava excessivamente avançada para o seu tempo.
Foi, então, que o Excelso Pai, preocupado com tantas negações, ordenou a vinda de um mensageiro de amor aos homens.
Esse outro enviado enxergou todos os quadros da Terra, com imensa piedade. Compadeceu-se do professor, do médico, do guerreiro e do artista, tanto quanto se comoveu ante a desventura e a selvageria da multidão e, decidido a trabalhar em nome de Deus, transformou-se no servo diligente de todos. Passou a agir em benefício geral e, identificado com o povo a que viera servir, sabia desculpar infinitamente e repetir mil vezes o mesmo esforço ou a mesma lição. Se era humilhado ou perseguido, buscava compreender na ofensa um desafio benéfico à sua capacidade de desdobrar-se na ação regeneradora, para testemunhar reconhecimento à confiança do Pai que o enviara. Por amar sem reservas os seus irmãos de luta, em muitas situações foi compelido a orar e pedir o socorro do Céu, perante as garras da calúnia e do sarcasmo; entretanto, entendia, nas mais baixas manifestações da natureza humana, dobrados motivos para consagrar-se, com mais calor, à melhoria dos companheiros animalizados, que ainda desconheciam a grandeza e a sublimidade do Pai Benevolente que lhes dera o ser.
Foi assim, fazendo-se o último de todos, que conseguiu acender a luz da fé renovadora e da bondade pura no coração das criaturas terrestres, elevando-as a mais alto nível, com plena vitória na divina missão de que fora investido.
Houve ligeira pausa na palavra doce do Messias e, ante a quietude que se fizera espontânea no ruidoso ambiente de minutos antes, concluiu ele, com expressivo acento na voz:
— Cultura e santificação representam forças inseparáveis da glória espiritual. A sabedoria e o amor são as duas asas dos anjos que alcançaram o Trono Divino, mas, em toda parte, quem ama segue à frente daquele que simplesmente sabe.



Livro JESUS NO LAR – Cap. IX - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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O príncipe sensato

Comentavam os apóstolos, entre si, qual a conduta mais aconselhável diante do Todo-Poderoso, quando o Mestre narrou com brandura:
— Certo rei, senhor de imensos domínios, desejando engrandecer o espírito dos filhos para conferir-lhes herança condigna, conduziu-os a extenso vale verdoengo e rico de seu enorme império e confiou a cada um determinada fazenda, que deviam preservar e enriquecer pelo trabalho incessante. O Pai desejava deles a coroa da compreensão, do amor e da sabedoria, somente conquistável através da educação e do serviço; e, como devia utilizar material transitório, deu-lhes tempo marcado para as construções que lhes seriam indispensáveis, mais tarde, aos serviços de elevação. Assim procedia, porque o vale era sujeito a modificações e chegaria um momento em que arrasadora tempestade visitaria a região guardando-se em segurança apenas aqueles que houvessem erguido forte reduto. Assim que o soberano se retirou, os filhos jovens, seguidos pelas numerosas tribos que os acompanhavam, descansaram, longamente, deslumbrados com a beleza das planícies banhadas de sol. Quando se levantaram para a tarefa, entraram em compridas conversações, com respeito às leis de solidariedade, justiça e defesa, cada qual a exigir especiais deferências dos outros. Quase ninguém cuidava da aplicação dos regulamentos estabelecidos pelo governo central. Os príncipes e seus afeiçoados, em maioria, por questões de conforto pessoal, esmeravam-se em procurar recursos sutis com que pudessem sonegar, sem escândalos visíveis entre si, os princípios a que haviam jurado obediência e respeito. E tentando enganar o Magnânimo Pai, por meio da bajulação, ao invés de honrá-lo com o trabalho sadio, internaram-se em complicadas contendas, em torno de problemas íntimos do soberano.
Gastaram anos a fio, discutindo-lhe a apresentação pessoal. Insistiam alguns que ele revelava no rosto a brancura do lírio, enquanto outros perseveravam em proclamar-lhe a cor bronzeada, idêntica à de muitos cativos de Sídon. Muitos afirmavam que ele possuía um corpo de gigante e não poucos exigiam fosse ele um anjo coroado de estrela.
Ao passo que as rixas verbais se multiplicavam, o tempo ia-se esgotando e os insetos destruidores, infinitamente reproduzidos, invadiram as terras, aniquilando grande parte dos recursos preciosos. Detritos desceram de serras próximas e fizeram compacto acervo de monturo naquelas regiões, enquanto os príncipes levianos, inteiramente distraídos das obrigações fundamentais que lhes cabiam, se engalfinhavam, a todo instante, a propósito de ninharias.
Houve, porém, um filho bem-avisado que anotou os decretos paternais e cumpriu-os. Jamais esqueceu os conselhos do rei e, quanto lhe era possível, os estendia aos companheiros mais próximos. Utilizou grande número de horas que as leis vigentes lhe concediam ao repouso e construiu sólido abrigo que lhe garantiria a tranqüilidade no futuro, semeando beleza e alegria em toda a fazenda que o genitor lhe cedera por empréstimo.
E assim, quando a tormenta surgiu, renovadora e violenta, o príncipe sensato que amara o monarca e servira-o, desvelado e carinhoso, estendendo-lhe as lições libertadoras, pela fraternidade pura, e cumprindo-lhe a vontade justa e bondosa, pelo trabalho de cada dia, com as aflições construtivas da alma e com o suor do rosto, foi naturalmente amparado num santuário de paz e segurança que os seus irmãos discutidores não encontraram.
Doce silêncio pairou na sala singela...
Decorridos alguns minutos, o Mestre fixou os olhos lúcidos na pequena assembleia e concluiu:
— Quem muito analisa, sem espírito de serviço, pode viciar-se facilmente nos abusos da palavra, mas ninguém se arrependerá de haver ensinado o bem e trabalhado com as próprias forças em nome do Pai Celestial, no bendito caminho da vida..


Livro JESUS NO LAR – Cap. VIII - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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O maior servidor

Presente à reunião familiar, Filipe, em dado instante, perguntou ao Divino Mestre:
— Senhor, qual é o maior servidor do Pai entre os homens na Terra?
Jesus refletiu alguns minutos e contou:
— Grande multidão se congregava em extenso campo, quando aí estacionou famoso guerreiro carregado de espadas e medalhas, que passou a dar lições de tática militar, concitando os circunstantes ao aprendizado da defesa. O povo começou a fazer exercícios laboriosos, dando saltos e entregando-se a perigosas corridas, sem proveito real; todavia, continuou como dantes, sem rumo e sem júbilo, perdendo muitos jovens nas atividades preparatórias de guerra provável. 
Logo depois, apareceu na mesma região um grande político, com pesada bagagem de códigos, e dividiu a massa em vários partidos, declarando-se os moços contra os velhos, os lares pobres contra os ricos, os servos contra os mordomos, e, não obstante a sementeira de benefícios materiais, introduzidos na zona pela competição dos grupos entre si, o político seguiu adiante, deixando escuros espinheiros de ódio, desengano e discórdia entre os seus colaboradores.
Depois dele, surgiu um filósofo, sobraçando volumosos alfarrábios e dividiu o povo em variadas escolas de crença que, em breve, propagavam infrutíferas discussões nos círculos de toda gente; a multidão duvidou de tudo, até mesmo da existência de si própria. A filosofia, sem dúvida, apresentava singulares vantagens, destacando-se a do estímulo ao pensamento, mas as perturbações de que se fazia acompanhar eram das mais lastimáveis, legando o filósofo muitas indagações inúteis aos cérebros menos aptos ao esforço de elevação. 
Em seguida, compareceu um sacerdote, munido de roupagens e símbolos, que forneceu muitas regras de adoração ao Pai. O povo aprendeu a dobrar os joelhos, a lavar-se e a suplicar a proteção divina, em horas certas. Entretanto, todos os problemas fundamentais da comunidade permaneceram sem alteração.
No extenso domínio, não havia diretrizes ao trabalho, nem ânimo consciente, nem valor, nem alegria. A doença e a morte, a necessidade e a ignorância eram fantasmas de toda a gente.
Certo dia, porém, apareceu ali um homem simples. Não trazia armas, nem escrituras, nem discussões e nem imagens, mas pelo sorriso espontâneo revelava um coração cheio de boa-vontade, guiando as mãos operosas. Não pregava doutrinas espetacularmente; todavia, nos gestos de bondade pura e constante, rendia culto sincero ao Todo-Poderoso. Começou a evidenciar-se, lavrando uma nesga do campo e adornando-a de flores e frutos preciosos. Conversava com os seus companheiros de luta, aproveitando as horas no ensinamento fraterno e edificante e transmitia suas experiências a todos os que se propusessem ouvi-lo. Aperfeiçoou a madeira, plantou árvores benfeitoras, construiu casas e instalou uma escola modesta. Em breve, ao redor dele, viçavam a saúde e a paz, a fraternidade e as bênçãos do serviço, a prosperidade e o contentamento de viver. Com o espírito de trabalho e educação que ele difundia, a defesa era boa, a política ajudava, a filosofia era preciosa e o sacerdócio era útil, porque todas as ações, no campo, permaneciam agora presididas pelo santo imperativo da execução do dever pessoal no bem de todos.   
Calou-se o Cristo, mas a assistência reduzida não ousou qualquer indagação.
Após contemplar o horizonte longínquo, em longos instantes de pensamento mudo, o Mestre terminou:
— Em verdade, há muitos trabalhadores no mundo que merecem a bênção do Céu pelo bem que proporcionam ao corpo e à mente das criaturas, mas aquele que educa o espírito eterno, ensinando e servindo, paira acima de todos.

Livro JESUS NO LAR – Cap. VII - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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Os instrumentos da perfeição
Naquela noite, Simão Pedro trazia à conversação o espírito ralado por extremo desgosto.
Agastara-se com parentes descriteriosos e rudes.
Velho tio acusara-o de dilapidador dos bens da família e um primo ameaçara esbofeteá-lo na via pública.
Guardava, por isso, o semblante carregado e austero.
Quando o Mestre leu algumas frases dos Sagrados Escritos, o pescador desabafou. Descreveu o conflito com a parentela e Jesus o ouviu em silêncio.
Ao término do longo relatório afetivo, indagou o Senhor:
— E que fizeste, Simão, ante as arremetidas dos familiares incompreensivos?
— Sem dúvida, reagi como devia! — respondeu o apóstolo, veemente. — Coloquei cada um no lugar próprio. Anunciei, sem rebuços, as más qualidades de que são portadores. Meu tio é raro exemplar de sovinice e meu primo é mentiroso contumaz. Provei, perante numerosa assistência, que ambos são hipócritas, e não me arrependi do que fiz.
O Mestre refletiu por minutos longos e falou, compassivo:
— Pedro, que faz um carpinteiro na construção de uma casa?
— Naturalmente, trabalha — redargüiu o interpelado, irritadiço.
— Com quê? — tornou o Amigo Celeste, bem-humorado.
— Usando ferramentas.
Após a resposta breve de Simão, o Cristo continuou:
— As pessoas com as quais nascemos e vivemos na Terra são os primeiros e mais importantes instrumentos que recebemos do Pai, para a edificação do Reino do Céu em nós mesmos. Quando falhamos no aproveitamento deles, que constituem elementos de nossa melhoria é quase impossível triunfar com recursos alheios, porque o Pai nos concede os problemas da vida, de acordo com a nossa capacidade de lhes dar solução. A ave é obrigada a fazer o ninho, mas não se lhe reclama outro serviço. A ovelha dará lã ao pastor; no entanto, ninguém lhe exige o agasalho pronto. Ao homem foram concedidas outras tarefas, quais sejam as do amor e da humildade, na ação inteligente e constante para o bem comum, a fim de que a paz e a felicidade não sejam mitos na Terra. Os parentes próximos, na maioria das vezes, são o martelo ou o serrote que podemos utilizar a benefício da construção do templo vivo e sublime, por intermédio do qual o Céu se manifestará em nossa alma. Enquanto o marceneiro usa as suas ferramentas, por fora, cabe-nos aproveitar as nossas por dentro. Em todas as ocasiões, o ignorante representa para nós um campo de benemerência espiritual; o mau é desafio que nos põe a bondade à prova; o ingrato é um meio de exercitarmos o perdão; o doente é uma lição à nossa capacidade de socorrer. Aquele que bem se conduz, em nome do Pai, junto de familiares endurecidos ou indiferentes, prepara-se com rapidez para a glória do serviço à Humanidade, porque, se a paciência aprimora a vida, o tempo tudo transforma.
Calou-se Jesus e, talvez porque Pedro tivesse ainda os olhos indagadores, acrescentou serenamente:
— Se não ajudamos ao necessitado de perto, como auxiliaremos os aflitos, de longe? Se não amamos o irmão que respira conosco os mesmos ares, como nos consagraremos ao Pai que se encontra no Céu?
Depois destas perguntas, pairou na modesta sala de Cafarnaum expressivo silêncio que ninguém ousou interromper.
Livro JESUS NO LAR – Cap. VI - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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O servo inconstante

À frente do todos os presentes, o Mestre narrou com simplicidade:
— Certo homem encontrou a luz da Revelação Divina e desejou ardentemente habilitar-se para viver entre os Anjos do Céu.
Tanto suplicou essa bênção ao Pai que, através da inspiração, o Senhor o enviou ao aprimoramento necessário com vistas ao fim a que se propunha.
Por intermédio de vários amigos, orientados pelo Poder Divino, o candidato, que demonstrava acentuada tendência pela escultura, foi conduzido a colaborar com antigo mestre, em mármore valioso. No entanto, a breve tempo, demitiu-se, alegando a impossibilidade de submeter-se a um homem ríspido e intratável; transferiu-se, desse modo, para uma oficina consagrada à confecção de utilidades de madeira, sob as diretrizes de velho escultor. Abandonou-o também, sem delongas, asseverando que lhe não era possível suportá-lo. Em seguida, empregou-se sob as determinações de conhecido operário especializado em construção de colunas em estilo grego. Não tardou, entretanto, a deixá-lo, declarando não lhe tolerar as exigências. Logo após, entregou-se ao trabalho, sob as ordens de experimentado escultor de ornamentações em arcos festivos, mas, finda uma semana, fugiu aos compromissos assumidos, afirmando haver encontrado um chefe por demais violento e irritadiço. Depois, colocou-se sob a orientação de um fabricante de arcas preciosas, de quem se afastou, em poucos dias, a pretexto de se tratar de criatura desalmada e cruel.
E, assim, de tarefa em tarefa, de oficina em oficina, o aspirante ao Céu dizia, invariavelmente, que lhe não era possível incorporar as próprias energias à experiência terrestre, por encontrar, em toda parte, o erro, a maldade e a perseguição nos que o dirigiam, até que a morte veio buscá-lo à presença dos Anjos do Senhor.
Com surpresa, porém, não os encontrou tão sorridentes quanto aguardava. Um deles avançou, triste, e indagou:
— Amigo, por que não te preparaste ante os imperativos do Céu?
O interpelado que identificava a própria inferioridade, nas sombras em que se envolvia, clamou em pranto que só havia encontrado exigência e dureza nos condutores da luta humana.
O Mensageiro, no entanto, observou, com amargura:
— O Pai chamou-te a servir em teu próprio proveito e, não, a julgar. Cada homem dará conta de si mesmo a Deus. Ninguém escapará à Justiça Divina que se pronuncia no momento preciso. Como pudeste esquecer tão simples verdade, dentro da vida? O malho bate a bigorna, o ferreiro conduz o malho, o comerciante examina a obra do ferreiro, o povo dá opinião sobre o negociante, e o Senhor, no Conjunto, analisa e julga a todos. Se fugiste a pequenos serviços do mundo, sob a alegação de que os outros eram incapazes e indignos da direção, como poderás entender o ministério celestial?
E o trabalhador inconstante passou às conseqüências de sua queda impensada.
Jesus fez uma pausa e concluiu:
— Quem estiver sob o domínio de pessoas enérgicas e endurecidas na disciplina, excelentes resultados conseguirá recolher se souber e puder aproveitar-lhes a aspereza, inspirando-se na madeira bruta ao contacto da plaina benfeitora. Abençoada seja a mão que educa e corrige, mas bem-aventurado seja aquele que se deixa aperfeiçoar ao seu toque de renovação e aprimoramento, porque os mestres do mundo sempre reclamam a lição de outros mestres, mas a obra do bem, quando realizada para todos, permanece eternamente.
Livro JESUS NO LAR – Cap. V - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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A lição da semente

Diante da perplexidade dos ouvintes, falou Jesus, convincente:
— Em verdade, é muito difícil vencer os aflitivos cuidados da vida humana. Para onde se voltem nossos olhos, encontramos a guerra, a incompreensão, a injustiça e o sofrimento. No Templo, que é o Lar do Senhor, comparecem o orgulho e a vaidade nos ricos, o ódio e a revolta nos pobres. Nem sempre é possível trazer o coração puro e limpo, como seria de desejar, porque há espinheiros, lamaçais e serpentes que nos rodeiam. Entretanto, a idéia do Reino Divino é assim como a semente minúscula do trigo. Quase imperceptível é lançada à terra, suportando-lhe o peso e os detritos, mas, se germina, a pressão e as impurezas do solo não lhe paralisam a marcha. Atravessa o chão escuro e, embora dele retire em grande parte o próprio alimento, o seu impulso de procurar a luz de cima é dominante. Desde então, haja sol ou chuva, faça dia ou noite, trabalha sem cessar no próprio crescimento e, nessa ânsia de subir, frutifica para o bem de todos. O aprendiz que sentiu a felicidade do avivamento interior, qual ocorre à semente de trigo, observa que longas raízes o prendem às inibições terrestres... Sabe que a maldade e a suspeita lhe rondam os passos, que a dor é ameaça constante; todavia, experimenta, acima de tudo, o impulso de ascensão e não mais consegue deter-se. Age constantemente na esfera de que se fez peregrino, em favor do bem geral. Não encontra seduções irresistíveis nas flores da jornada. O reencontro com a Divindade, de que se reconhece venturoso herdeiro, constitui-lhe objetivo imutável e não mais descansa, na marcha, como se uma luz consumidora e ardente lhe torturasse o coração. Sem perceber, produz frutos de esperança, bondade, amor e salvação, porque jamais recua para contar os benefícios de que se fez instrumento fiel. A visão do Pai é a preocupação obcecante que lhe vibra na alma de filho saudoso.
O Mestre silenciou por momentos e concluiu:
— Em razão disso, ainda que o discípulo guarde os pés encarcerados no lodo da Terra, o trabalho infatigável no bem, no lugar em que se encontra, é o traço indiscutível de sua elevação. Conheceremos as árvores pelos frutos e identificaremos o operário do Céu pelos serviços em que se exprime.
A essa altura, Pedro interferiu, perguntando:
— Senhor: que dizer, então, daqueles que conhecem os sagrados princípios da caridade e não os praticam?
Esboçou Jesus manifesta satisfação no olhar e elucidou:
— Estes, Simão, representam sementes que dormem, apesar de projetadas no seio dadivoso da terra. Guardarão consigo preciosos valores do Céu, mas jazem inúteis por muito tempo. Estejamos, porém, convictos de que os aguaceiros e furacões passarão por elas, renovando-lhes a posição no solo, e elas germinarão, vitoriosas, um dia. Nos campos de Nosso Pai, há milhões de almas assim, aguardando as tempestades renovadoras da experiência, para que se dirijam à glória do futuro. Auxiliemo-las com amor e prossigamos, por nossa vez, mirando a frente!
Em seguida, ante o silêncio de todos, Jesus abençoou a pequena assembléia familiar e partiu.
Livro JESUS NO LAR – Cap. IV - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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Explicações do Mestre

Em plena conversação edificante, Sara a esposa de Benjamim, o criador de cabras, ouvindo comentários do Mestre, nos doces entendimentos do lar de Cafarnaum, perguntou de olhos fascinados pelas revelações novas:
— A idéia do Reino de Deus, em nossas vidas, é realmente sublime; todavia, como iniciar-me nela? Temos ouvido as pregações à beira do lago e sabemos que a Boa Nova aconselha, acima de tudo, o amor e o perdão... Eu desejaria ser fiel a semelhantes princípios, mas sinto-me presa a velhas normas. Não consigo desculpar os que me ofendem, não entendo uma vida em que troquemos nossas vantagens pelos interesses dos outros, sou apegada aos meus bens e ciumenta de tudo o que aceito como sendo propriedade minha.
A dama confessava-se com simplicidade, não obstante o sorriso desapontado de quem encontra obstáculos quase invencíveis.
— Para isso — comentou Pedro —, é indispensável a boa-vontade.
— Com a fé em Nosso Pai Celestial — aventurou a esposa de Simão —, atravessaremos os tropeços mais duros.
Em todos os presentes transparecia ansiosa expectativa quanto ao pronunciamento do Senhor, que falou, em seguida a longo silêncio:
— Sara, qual é o serviço fundamental de tua casa?
— É a criação de cabras — redargüiu a interpelada, curiosa.
— Como procedes para conservar o leite inalterado e puro no benefício doméstico?
— Senhor, antes de qualquer providência, é imprescindível lavar, cautelosamente, o vaso em que ele será depositado. Se qualquer detrito ficar na ânfora, em breve todo o leite se toca de franco azedume e já não servirá para os serviços mais delicados.
Jesus sorriu e explanou:
— Assim é a revelação celeste no coração humano. Se não purificamos o vaso da alma, o conhecimento, não obstante superior, se confunde com as sujidades de nosso íntimo, como que se degenerando, reduzindo a proporção dos bens que poderíamos recolher. Em verdade, Moisés e os Profetas foram valorosos portadores de mensagens divinas, mas os descendentes do Povo Escolhido não purificaram suficientemente o receptáculo vivo do espírito para recebê-las. É por isto que os nossos contemporâneos são justos e injustos, crentes e incrédulos, bons e maus ao mesmo tempo. O leite puro dos esclarecimentos elevados penetra o coração como alimento novo, mas aí se mistura com a ferrugem do egoísmo velho. Do serviço renovador da alma restará, então, o vinagre da incompreensão, adiando o trabalho efetivo do Reino de Deus.
A pequena assembléia, na sala de Pedro, recebia a lição sublime e singela, comovidamente, sem qualquer interferência verbal.
O Mestre, porém, levantando-se com discrição e humildade, afagou os cabelos da senhora que o interpelara e concluiu, generoso:
— O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na poeira da estrada, é gota lamacenta. Não te esqueças desta verdade simples e clara da Natureza.
Livro JESUS NO LAR – Cap. III - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio
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A Escola das Almas

Congregados, em torno do Cristo, os domésticos de Simão ouviram a voz suave e persuasiva do Mestre, comentando os sagrados textos.

Quando a palavra divina terminou a formosa preleção, a sogra de Pedro indagou inquieta:
— Senhor, afinal de contas, que vem a ser a nossa vida no lar?
Contemplou-a Ele, significativamente, demonstrando a expectativa de mais amplos esclarecimentos, e a matrona acrescentou:
— Iniciamos a tarefa entre flores para encontrarmos depois pesada colheita de espinhos. No começo é a promessa de paz e compreensão; entretanto, logo após, surgem pedras e dissabores...
Reparando que a senhora Galiléia se sensibilizara até as lágrimas, deu-se pressa Jesus em responder:
— O lar é a escola das almas, o templo onde a sabedoria divina nos habilita, pouco a pouco, ao grande entendimento da Humanidade.
E, sorrindo, perguntou:
— Que fazes inicialmente às lentilha, antes de servi-las à refeição?
A interpelada respondeu, titubeante:
— Naturalmente, Senhor, cabe-me levá-las ao fogo para que se façam suficientemente cozidas. Depois, devo temperá-las, tornando-as agradáveis ao sabor.
— Pretenderias, também, porventura, servir pão cru à mesa?
— De modo algum — tornou a velha humilde —; antes de entregá-lo ao consumo caseiro, compete-me guardá-lo ao calor do forno. Sem essa medida...
O Divino Amigo então considerou:
— Há também um banquete festivo, na vida celestial, onde nossos sentimentos devem servir à glória do Pai. O lar, na maioria das vezes, é o cadinho santo ou o forno preparador. O que nos parece aflição ou sofrimento dentro dele é recurso espiritual. O coração acordado para a Vontade do Senhor retira as mais luminosas bênçãos de suas lutas renovadoras, porque, somente aí, de encontro uns com os outros, examinando aspirações e tendências que não são nossas, observando defeitos alheios e suportando-os, aprendemos a desfazer as próprias imperfeições. Nunca notou a rapidez da existência de um homem? A vida carnal é idêntica à flor da erva. Pela manhã emite perfume, à noite, desaparece... O lar é um curso ligeiro para a fraternidade que desfrutaremos na vida eterna. Sofrimentos e conflitos naturais, em seu círculo, são lições.
A sogra de Simão escutou, atenciosa, e ponderou:
— Senhor, há criaturas, porém, que lutam e sofrem; no entanto, jamais aprendem.
O Cristo pousou na interlocutora os olhos muito lúcidos e tornou a indagar:
— Que fazes das lentilhas endurecidas que não cedem à ação do fogo?
— Ah! sem dúvida, atiro-as ao monturo, porque feririam a boca do comensal descuidado e confiante.
— Ocorre o mesmo — terminou o Mestre — com a alma rebelde às sugestões edificantes do lar. A luta comum mantém a fervura benéfica; todavia, quando chega a morte, a grande selecionadora do alimento espiritual para os celeiros de Nosso Pai, os corações que não cederam ao calor santificante, mantendo-se na mesma dureza, dentro da qual foram conduzidos ao forno bendito da carne, serão lançados fora, a fim de permanecerem, por tempo indeterminado, na condição de adubo, entre os detritos da Natureza.

Livro JESUS NO LAR – Cap. II - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio

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O Culto Cristão no Lar

Povoara-se o firmamento de estrelas, dentro da noite prateada de luar, quando o Senhor, instalado provisoriamente em casa de Pedro, tomou os Sagrados Escritos e, como se quisesse imprimir novo rumo à conversação que se fizera improdutiva e menos edificante, falou com bondade:
—  Simão, que faz o pescador quando se dirige para o mercado com os frutos de cada dia?
O apóstolo pensou alguns momentos e respondeu, hesitante:
— Mestre, naturalmente, escolhemos os peixes melhores. Ninguém compra os resíduos da pesca.
Jesus sorriu e perguntou, de novo:
— E o oleiro? que faz para atender à tarefa a que se propõe?
— Certamente, Senhor — redargüiu o pescador, intrigado —, modela o barro, imprimindo-lhe a forma que deseja.
O Amigo Celeste, de olhar compassivo e fulgurante, insistiu:
— E como procede o carpinteiro para alcançar o trabalho que pretende?
O interlocutor, muito simples, informou sem vacilar:
— Lavrará a madeira, usará a enxó e o serrote, o martelo e o formão. De outro modo, não aperfeiçoará a peça bruta.
Calou-se Jesus, por alguns instantes, e aduziu:
— Assim, também, é o lar diante do mundo. O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma. A casa do homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum. Se o negociante seleciona a mercadoria, se o marceneiro não consegue fazer um barco sem afeiçoar a madeira aos seus propósitos, como esperar uma comunidade segura e tranqüila sem que o lar se aperfeiçoe? A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se nos não habituamos a amar o irmão pais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?
Jesus relanceou o olhar pela sala modesta, fez pequeno intervalo e continuou:
— Pedro, acendamos aqui, em torno de quantos nos procuram a assistência fraterna, uma claridade nova. A mesa de tua casa é o lar de teu pão. Nela, recebes do Senhor o alimento para cada dia. Por que não instalar, ao redor dela, a sementeira da felicidade e da paz na conversação e no pensamento? O Pai, que nos dá o trigo para o celeiro, através do solo, envia-nos a luz através do Céu. Se a claridade é a expansão dos raios que a constituem, a fartura começa no grão. Em razão disso, o Evangelho não foi iniciado sobre a multidão, mas, sim, no singelo domicílio dos pastores e dos animais.
Simão Pedro fitou no Mestre os olhos humildes e lúcidos e, como não encontrasse palavras adequadas para explicar-se, murmurou, tímido:
— Mestre, seja feito como desejas.
Então Jesus, convidando os familiares do apóstolo à palestra edificante e à meditação elevada, desenrolou os escritos da sabedoria e abriu, na Terra, o primeiro culto cristão no lar.
Livro JESUS NO LAR – Cap. I - Francisco Cândido Xavier - Pelo Espírito Neio Lúcio

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O QUE MAIS SOFREMOS
O que mais sofremos no mundo –
Não é a dificuldade. É o desânimo em superá-la.
Não é a provação. É o desespero diante do sofrimento.
Não é a doença. É o pavor de recebê-la.
Não é o parente infeliz. É a mágoa de tê-lo na equipe familiar.
Não é o fracasso. É a teimosia de não reconhecer os próprios erros.
Não é a ingratidão. É a incapacidade de amar sem egoísmo.
Não é a própria pequenez. É a revolta contra a superioridade dos outros.
Não é a injúria. É o orgulho ferido.
Não é a tentação. É a volúpia de experimentar-lhe os alvitres.
Não é a velhice do corpo. É a paixão pelas aparências.
Como é fácil de perceber, na solução de qualquer problema, o pior problema é a carga de aflições que criamos, desenvolvemos e sustentamos contra nós.
(Espírito: ALBINO TEIXEIRA - Médium: Francisco Cândido Xavier - Livro: "Passos da Vida" - EDIÇÃO IDE)
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