O de que precisa o Espírito para ser salvo. Parábola do bom samaritano.
Ora, quando o filho do homem vier
em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua
glória; — reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos outros, como o
pastor separa dos bodes as ovelhas, — e colocará as ovelhas à sua direita e os
bodes à sua esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde,
benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o
princípio do mundo; — porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me
destes de beber; careci de teto e me hospedastes; — estive nu e me vestistes;
achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver.
Então, responder-lhe-ão os
justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com
sede e te demos de beber? — Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos;
ou despido e te vestimos? — E quando foi que te soubemos doente ou preso e
fomos visitar-te? — O Rei lhes responderá:
Em verdade vos digo, todas as
vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim
mesmo que o fizestes.
Dirá em seguida aos que estiverem
à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi
preparado para o diabo e seus anjos; — porquanto, tive fome e não me destes de
comer, tive sede e não me destes de beber; precisei de teto e não me
agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes; estive doente e no cárcere e
não me visitastes.
Também eles replicarão: Senhor,
quando foi que te vimos com fome e não te demos de comer, com sede e não te
demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e não te assistimos? —
Ele então lhes responderá: Em verdade vos digo: todas a vezes que faltastes com
a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo.
E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (S. MATEUS,
cap. XXV, vv. 31 a 46.)
Então, levantando-se, disse-lhe
um doutor da lei, para o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida
eterna? — Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês
nela? — Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a
tua alma, com todas as tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo
como a ti mesmo. — Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem; faze isso e viverás.
Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: Quem é o meu
próximo?
Jesus, tomando a palavra, lhe
diz: Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões,
que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. —
Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e
passou adiante. — Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado,
passou igualmente adiante. — Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar
onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. —
Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois,
pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. — No dia
seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem
deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar.
Qual desses três te parece ter
sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? — O doutor respondeu:
Aquele que usou de misericórdia para com ele. — Então, vai, diz Jesus, e faze o
mesmo. (S. LUCAS, cap. X, vv. 25 a 37.)
Toda a moral de Jesus se resume
na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e
ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo
as que conduzem à eterna felicidade:
Bem-aventurados, disse, os pobres
de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus;
bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e
pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso próximo
como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os
vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem
sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros.
Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele
próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E
não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos
como condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que traçou do juízo
final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é apenas figura,
alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as
questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais
chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha
mesmo de não se afastar muito das idéias correntes, quanto à forma, reservando
sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre
os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou
figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo
e da infelicidade que espera o mau.
Naquele julgamento supremo, quais
os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta,
porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se
observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão-somente
de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à
direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que
fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz
qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois
Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do
próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a
caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição
única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde
que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas
as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça,
etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. XV, itens 1 a 3.)