INTERVENÇÃO DIVINA
Em determinada
passagem por uma pequena e humilde aldeia, o monge samaritano, encontra em sua
jornada peregrina uma família em total desarmonia, todos estavam inconformados
com a perda de uma colheita inteira e em conseqüência por sofrerem o prejuízo
financeiro de uma comercialização inexistente.
O desespero
tomava conta dos membros dessa família e todos se acusavam mutuamente,
encontravam-se preocupados em culpar alguém e apontar o responsável pelo
desastre e nem se interessavam em obter respostas que viessem a evitar
tormentos futuros e prevenir maiores vicissitudes.
O monge, que
observava tudo a alguns metros, notou uma tensão crescente entre alguns dos
componentes e resolveu intervir, para que as ofensas direcionadas a alguns não
se transformassem em agressões físicas, piorando ainda mais a situação deste
conflito desnecessário.
Com toda sua
solicitude e esmero, rogou um instante da atenção de todos e com um tom firme
em sua voz, mas de forma paternal e amorosa, iniciou uma exposição de alguns
fatos que seriam de interesse comum.
- Queridos
amigos, em determinada região do norte, certa abelhinha preguiçosa e descuidada
buscando aproveitar o sol que abrilhantava o alvorecer, deixou uma pequena
bolinha de seiva que havia tido a sorte de encontrá-la abandonada pelo jardim
sobre uma delicada pedra que se encontrava próximo a ela.
A abelhinha vendo que borboletas e mariposas
se divertiam em um lindo balé, ritmadas pelo doce tilintar das pétalas das
flores, resolveu que deveria dar um descanso de seus afazeres e deixou repousar
sobre essa pedra a pequena preciosidade que a natureza tão benfazeja lhe havia
ofertado de forma tão sublime.
Após horas de
divertida comunhão com os outros seres, lembrou-se então do pequeno produto e
voltando-se ao local onde havia depositado o doce néctar, deparou-se com
dolorosa cena, seu pequeno tesouro não estava mais ali, havia desaparecido como
que por encanto, sentindo-lhe a cólera apoderar-se dela e bradando aos quatro
cantos do mundo, acusava a todos, imaginando quem seria o malfeitor que havia
usurpado seu precioso tesouro.
Mas quando
começou a analisar o local que tinha depositado o mesmo, admirou-se ao ver que
tinha algo macio e flexível que escorria pela pedra, colocando a pequena
mãozinha neste material estranho pode sentir pelo aroma expelido que se tratava
da preciosa seiva.
Nisto revoltosa
e arredia, virou-se para a pobre e solitária pedra direcionando-a palavras
acusadoras, pois a mesma havia danificado seu lindo presente, e por não possuir
capacidade de locomoção sentia inveja desse trabalho perfeito e da sorte que a
abelhinha possuía, portanto como não iria fazer nada produtivo, ansiava
destruir o que não lhe pertencia, deixando-se aquecer e assim derreter o
precioso tesouro.
A pedra,
entretanto, demonstrando singela humildade, suplicou o perdão da enfezada
abelha e disse haver derretido o tão frágil produto devido à ação agressiva do
sol, que teimou em aquecê-la de forma incessante e ininterrupta.
Ouvindo
esclarecedoras palavras, a pequena abelha, voa em direção ao sol, disposta a
brigar e receber uma boa explicação desta afronta.
Entretanto,
chegando próxima ao astro brilhante, ouve sinceras rogativas de escusas, pois
devido ao tempo estar muito bonito, as nuvens não teriam comparecido ao local,
e elas eram as únicas que podiam inibir a transmissão desse brilho luminescente
através delas e assim possibilitariam que o astro rei, pudesse ofertar descanso
de seus raios contra os seres e as coisas da terra.
Sentindo uma
grande ira tomar conta de seu pequenino corpo, a imprudente abelha parte
novamente para a batalha, desta vez contra as macias nuvens e ao avistá-las em
um tímido grupo, já chega logo as ofendendo e acusando de traição e por não
cumprirem a sua obrigação de coibir o sol de acalorar de forma constante a
pedra, aquecendo-a e fazendo que seu doce néctar derretesse.
Uma das nuvens
de forma acanhada e branda, tenta expor que sua inércia neste caso, foi devido
ao vento que se ausentou e não pode com isto soprá-las para próximo ao sol.
- Então era isso!
Pensou a abelha novamente se enfurecendo, o preguiçoso do vento então, não quis
trabalhar, bastava encontrar com ele e dar-lhe uma ferroada, iria ensinar-lhe a
cumprir os desígnios ao qual fora destinado.
Voando
velozmente, pôde sentir ao longe suave brisa e ao confirmar a presença do
oscilante vento, buscou partir para o embate, mas o sutil e meigo amigo, apenas
esquivando-se pediu calma a temperamental criatura e explicando ter sido preso
em um grande muro, ficou impossibilitado de cumprir sua tarefa.
A abelhinha já
imaginando uma possível desculpa do muro, foi logo pedindo explicação que o
mesmo docemente afirmou apenas ter sido criado pelo homem, sendo construído
alto e forte, o que impossibilitou o vento de atravessá-lo, mas não havia feito
por mal, pois fora ali levantado.
A pequena e
feroz criaturinha então resolveu entender-se com o cruel homem, que por
construir o muro atrapalhou sua vida. Isso não podia ficar assim, esse ser
teria que se redimir ou sentiria a sua força. E assim o fez ao encontrar com o
homem deu-lhe uma ferroada fazendo-o soltar um gemido de dor, e deixando em seu
corpo a marca dessa ira e seu pequeno e afiado aguilhão, juntamente com a sua
energia vital.
O homem percebe
então a presença da abelha e interpela o porquê dessa agressividade.
A criaturinha
com a respiração ofegante, já desfalecendo informa que estava se vingando dele,
por ter criado algo que destruiu seu precioso tesouro.
O homem por sua
vez pede desculpas e diz não ter tido essa intenção e seria incapaz de fazer qualquer
coisa para prejudicar outra criatura, tanto que havia construído o muro para
proteger as crianças que brincavam no lote onde possuía um riacho com águas
fortes e traiçoeiras. Disse ainda respeitar todas as criaturas da terra, pois
foram criadas por Deus e a Ele cabia o entendimento da necessidade de cada ser.
A abelhinha
ouvindo essa afirmação veio a desfalecer pelo golpe dado no homem onde deixou
depositado seu aguilhão e sua energia.
Quando se
encontrava já sem vida, ouve uma voz soberanamente acolhedora e reconfortante,
julgando ser a voz de Deus, a abelhinha que apesar de morta ainda encontra-se
pronta para a batalha, já vai logo dizendo:
- Então você que é Deus, o Criador, aquele que
é responsável por tudo de ruim que me aconteceu. Pois bem tive que morrer para
poder falar com você então me de uma explicação.
A benevolente voz, com tom paternal e de forma
sublime direciona-se ate a revoltosa abelha:
- Minha filha,
porque me acusas de algo que não sou o culpado, a única coisa que fiz, foi
ouvir suas súplicas de fome e pedir as belas flores que deixassem próximas a
ti, uma pequena quantidade de seiva para que pudesse levar ate sua colméia e
produzir a cera para ajudar no progresso de sua família,e assim poder servir ao
que fosses designada a fazer,
entretanto, sentindo-se sortuda e esquecendo de sua obrigação, agiu de
forma descuidada e imprudente, abandonando a seiva em uma pedra, e após horas de diversão
despreocupada foi que voltou para buscar o produto que havia encontrado, pois
não necessitou ao menos coletar esse material das flores, mas mesmo assim, não
deu o devido valor, portanto querida filha, por favor, não culpe a mim ou
a nenhum dos seus irmãos de jornada, a
culpa dos acontecimentos laboriosos em sua humilde existência, é exclusivamente
sua, se tivesse agido com responsabilidade e disciplina, teria efetuado a
tarefa primeiro e depois se divertido com os outros, teria ido guardar o
precioso produto e somente após cumprida a tarefa vir a divertir-se com os
demais seres.
Pedi que o homem
construísse o muro, para proteger as crianças e retardar a passagem do vento,
que assim iria evitar que as nuvens tapassem o sol e o dia fosse ainda mais
longo e belo, para que você depois da tarefa ainda tivesse tempo de se alegrar
com os demais. Entretanto pela sua
imprudência veio a perder o precioso néctar, mas como o sol ainda brilhava
alegre, fazia com que as flores continuassem a produzi-lo em abundancia.
Mas se ao invés
de você buscar o causador de sua perda e ansiar por vingar-se dele, tivesse aproveitado
o belo dia e posto a coletar nova seiva, teria conseguido realizar a tarefa e a
se divertir normalmente, uma vez que o dia se perdurou ate o presente momento,
pois pedi que todos se prontificassem a servi-la com alegria e amor.
Sua busca
insensata pelo revide e pelo embate em nada favoreceu o seu dia, pois,
perdestes a oportunidade de servir, perdestes a energia vital e
conseqüentemente a vida e nada obteve de virtuoso nessa jornada.
Não culpe os
outros pela sua escolha menos assertiva, persevere em fazer o seu melhor e tudo
se ajeita.
Vistes, perdestes
a oportunidade de uma vida pelo fato de esquecer-se da responsabilidade e
alimentar-se da ira, peregrinou pelo caminho da desatenção e veio a desfalecer
pela própria imprudência.
Terminada a
historia o monge afastou-se vagarosamente e todos os membros da família se
abraçaram, pedindo perdão e entendendo que a causa deste problema teve a
participação de todos, que deixaram a obrigação do trabalho e do cuidado com a
plantação na responsabilidade do outro. E que acusar não resolve em nada as
provações, mas buscar aprimorar-se para a próxima oportunidade é fundamental
para o progresso de todos.
A vida
oferta-nos oportunidades constantes de aprendizado, cabendo-nos apenas buscar
compreende-las com os olhos do coração.
(Texto extraído do livro Singelo Peregrino - ditado pelo Espírito Antônio Carlos Vieira - psicografia de Alessandro Micussi)