O orgulho e
a humildade (III)
Pobre criatura! és mãe, teus filhos sofrem; sentem frio;
tem fome, e tu vais, curvada ao peso da tua cruz, humilhar-te, para lhes
conseguires um pedaço de pão! Oh! inclino-me diante de ti. Quão nobremente
santa és e quão grande aos meus olhos! Espera e ora; a felicidade ainda não é
deste mundo. Aos pobres oprimidos que nele confiam, concede Deus o reino dos
céus.
E tu, donzela, pobre criança lançada ao trabalho, às
privações, por que esses tristes pensamentos? Por que choras? Dirige a Deus,
piedoso e sereno, o teu olhar: ele dá alimento aos passarinhos; tem-lhe confiança:
ele não te abandonará. O ruído das festas, dos prazeres do mundo, faz bater-te
o coração; também desejaras adornar de flores os teus cabelos e misturar-te com
os venturosos da Terra. Dizes de ti para contigo que, como essas mulheres que
vês passar, despreocupadas e risonhas, também poderias ser rica. Oh! cala-te,
criança! Se soubesses quantas lágrimas e dores inomináveis se ocultam sob esses
vestidos recamados, quantos soluços são abafados pelos sons dessa orquestra
rumorosa, preferirias o teu humilde retiro e a tua pobreza. Conserva-te pura
aos olhos de Deus, se não queres que o teu anjo guardião para o seu seio volte,
cobrindo o semblante com as suas brancas asas e deixando-te com os teus
remorsos, sem guia, sem amparo, neste mundo, onde ficarias perdida, a aguardar
a punição no outro.
Todos vós que dos homens sofreis injustiças, sede
indulgentes para as faltas dos vossos irmãos, ponderando que também vós não vos
achais isentos de culpas; é isso caridade, mas é igualmente humildade. Se
sofreis pelas calúnias, abaixai a cabeça sob essa prova. Que vos importam as
calúnias do mundo? Se é puro o vosso proceder, não pode Deus vo-las compensar?
Suportar com coragem as humilhações dos homens é ser humilde e reconhecer que
somente Deus é grande e poderoso.
Oh! meu Deus, será preciso que o Cristo volte segunda vez
à Terra para ensinar aos homens as tuas leis, que eles olvidam? Terá que de
novo expulsar do templo os vendedores que conspurcam a tua casa, casa que é
unicamente de oração? E, quem sabe? ó homens! se o não renegaríeis como
outrora, caso Deus vos concedesse essa graça! Chamar-lhe-íeis blasfemador,
porque abateria o orgulho dos modernos fariseus. É bem possível que o fizésseis
perlustrar novamente o caminho do Gólgota. – Lacordaire. (Constantina, 1863.)
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. VII, item 11.)