CANDEIA SOB O
ALQUEIRE – PORQUE FALAVA JESUS POR PARÁBOLAS
Se, pois, em sua
previdente sabedoria, a Providência só gradualmente revela as verdades, é claro
que as desvenda à proporção que a Humanidade se vai mostrando amadurecida para
as receber. Ela as mantém de reserva e não sob o alqueire. Os homens, porém, que
entram a possuí-las, quase sempre as ocultam do vulgo com o intento de o
dominarem.
São esses os que,
verdadeiramente, colocam a luz debaixo do alqueire. É por isso que todas as
religiões têm tido seus mistérios, cujo exame proíbem. Mas, ao passo que essas
religiões iam ficando para trás, a Ciência e a inteligência avançaram e
romperam o véu misterioso. Havendo-se tornado adulto, o vulgo entendeu de
penetrar o fundo das coisas e eliminou de sua fé o que era contrário à
observação.
Não podem existir
mistérios absolutos e Jesus está com a razão quando diz que nada há secreto que
não venha a ser conhecido. Tudo o que se acha oculto será descoberto um dia e o
que o homem ainda não pode compreender lhe será sucessivamente desvendado, em
mundos mais adiantados, quando se houver purificado. Aqui na Terra, ele ainda
se encontra em pleno nevoeiro.
Pergunta-se: que
proveito podia o povo tirar dessa multidão de parábolas, cujo sentido se lhe
conservava impenetrável? É de notar-se que Jesus somente se exprimiu por parábolas
sobre as partes de certo modo abstratas da sua doutrina. Mas, tendo feito da
caridade para com o próximo e da humildade condições básicas da salvação, tudo
o que disse a esse respeito é inteiramente claro, explícito e sem ambigüidade
alguma. Assim devia ser, porque era a regra de conduta, regra que todos tinham
de compreender para poderem observá-la. Era o essencial para a multidão
ignorante, à qual ele se limitava a dizer: “Eis o que é preciso se faça para
ganhar o reino dos céus.” Sobre as outras partes, apenas aos discípulos
desenvolvia o seu pensamento. Por serem eles mais adiantados, moral e
intelectualmente, Jesus pôde iniciá-los no conhecimento de verdades mais
abstratas. Daí o haver dito: Aos que já têm, ainda mais se dará.
Entretanto, mesmo
com os apóstolos, conservou-se impreciso acerca de muitos pontos, cuja completa
inteligência ficava reservada a ulteriores tempos. Foram esses pontos que deram
ensejo a tão diversas interpretações, até que a Ciência, de um lado, e o Espiritismo,
de outro, revelassem as novas leis da Natureza, que lhes tornaram perceptível o
verdadeiro sentido.
O Espiritismo,
hoje, projeta luz sobre uma imensidade de pontos obscuros; não a lança, porém,
inconsideradamente. Com admirável prudência se conduzem os Espíritos, ao darem
suas instruções. Só gradual e sucessivamente consideraram as diversas partes já
conhecidas da Doutrina, deixando as outras partes para serem reveladas à medida
que se for tornando oportuno fazê-las sair da obscuridade. Se a houvessem
apresentado completa desde o primeiro momento, somente a reduzido número de
pessoas se teria ela mostrado acessível; houvera mesmo assustado as que não se
achassem preparadas para recebê-la, do que resultaria ficar prejudicada a sua
propagação. Se, pois, os Espíritos ainda não dizem tudo ostensivamente, não é
porque haja na Doutrina mistérios em que só alguns privilegiados possam
penetrar, nem porque eles coloquem a lâmpada debaixo do alqueire; é porque cada
coisa tem de vir no momento oportuno. Eles dão a cada idéia tempo para
amadurecer e propagar-se, antes que apresentem outra, e aos acontecimentos o de
preparar a aceitação dessa outra.
(Fonte: O
Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXIV, itens 5 a 7)