O duelo (III)
O duelo, como
o que outrora se denominava o juízo de Deus, é uma das instituições
bárbaras que ainda regem a sociedade. Que diríeis, no entanto, se
vísseis dois adversários mergulhados em água fervente ou submetidos ao
contacto de um ferro em brasa, para ser dirimida a contenda entre eles,
reconhecendo-se estar a razão com aquele que melhor sofresse a prova?
Qualificaríeis de insensatos esses costumes, não é exato? Pois o duelo é
coisa pior do que tudo isso. Para o duelista destro, é um assassínio
praticado a sangue frio, com toda a premeditação que possa haver, uma
vez que ele está certo da eficácia do golpe que desfechará. Para o
adversário, quase certo de sucumbir em virtude de sua fraqueza e
inabilidade, é um suicídio cometido com a mais fria reflexão. Sei que
muitas vezes se procura evitar essa alternativa igualmente criminosa,
confiando ao acaso a questão: mas, não é isso voltar, sob outra forma,
ao juízo de Deus, da Idade Média? E nessa época infinitamente menor era a
culpa. A própria denominação de juízo de Deus indica a fé, ingênua, é
verdade, porém, afinal, fé na justiça de Deus, que não podia consentir
sucumbisse um inocente, ao passo que, no duelo, tudo se confia à força
bruta, de tal sorte que não raro é o ofendido que sucumbe.
Ó estúpido amor-próprio, tola vaidade e louco orgulho, quando sereis substituídos pela caridade cristã, pelo amor do próximo e pela humildade que o Cristo exemplificou e preceituou? Só quando isso se der desaparecerão esses preceitos monstruosos que ainda governam os homens, e que as leis são impotentes para reprimir, porque não basta interditar o mal e prescrever o bem; é preciso que o princípio do bem e o horror ao mal morem no coração do homem. — Um Espírito protetor. (Bordéus, 1861.)
Ó estúpido amor-próprio, tola vaidade e louco orgulho, quando sereis substituídos pela caridade cristã, pelo amor do próximo e pela humildade que o Cristo exemplificou e preceituou? Só quando isso se der desaparecerão esses preceitos monstruosos que ainda governam os homens, e que as leis são impotentes para reprimir, porque não basta interditar o mal e prescrever o bem; é preciso que o princípio do bem e o horror ao mal morem no coração do homem. — Um Espírito protetor. (Bordéus, 1861.)
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XII, item 13.)