Motivos de resignação (I)
Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão
consolados, Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a
resignação que leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da
cura.
Também podem essas palavras ser traduzidas assim: Deveis considerar-vos
felizes por sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida
que as vossas passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na
Terra, essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida futura. Deveis,
pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que a
saldeis agora, o que vos garantirá a tranqüilidade no porvir.
O homem que sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o
credor diz: “Se me pagares hoje mesmo a centésima parte do teu débito,
quitar-te-ei do restante e ficarás livre; se o não fizeres, atormentar-te-ei,
até que pagues a última parcela.” Não se sentiria feliz o devedor por suportar
toda espécie de privações para se libertar, pagando apenas a centésima parte do
que deve? Em vez de se queixar do seu credor, não lhe ficará agradecido?
Tal o sentido das palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão
consolados.” São ditosos, porque se quitam e porque, depois de se haverem
quitado, estarão livres. Se, porém, o homem, ao quitar-se de um lado,
endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a sua libertação. Ora, cada nova
falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer que ela seja, que não
acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã;
se não for na vida atual, será noutra. Entre essas faltas, cumpre se coloque na
primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus. Logo, se murmurarmos
nas aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que devemos ter
merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos, que nos
faz perder o fruto que devíamos colher do sofrimento. É por isso que teremos de
recomeçar, absolutamente como se, a um credor que nos atormente, pagássemos uma
cota e a tomássemos de novo por empréstimo.
(Fonte: O
Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 12.)
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