A
beneficência (III)
Chamo-me Caridade; sigo o caminho principal que conduz a
Deus. Acompanhai-me, pois conheço a meta a que deveis todos visar.
Dei esta manhã o meu giro habitual e, com o coração
amargurado, venho dizer-vos: Oh! meus amigos, que de misérias, que de lágrimas,
quanto tendes de fazer para secá-las todas! Em vão, procurei consolar algumas
pobres mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! há corações bons que velam por
vós; não sereis abandonadas; paciência! Deus lá está; sois dele amadas, sois
suas eleitas. Elas pareciam ouvir-me e volviam para o meu lado os olhos
arregalados de espanto; eu lhes lia no semblante que seus corpos, tiranos do
Espírito, tinham fome e que, se é certo que minhas palavras lhes serenavam um
pouco os corações, não lhes reconfortavam os estômagos. Repetia-lhes: Coragem!
Coragem! Então, uma pobre mãe, ainda muito moça, que amamentava uma criancinha,
tomou-a nos braços e a estendeu no espaço vazio, como a pedir-me que protegesse
aquele entezinho que só encontrava, num seio estéril, insuficiente alimentação.
Alhures vi, meus amigos, pobres velhos sem trabalho e, em
conseqüência, sem abrigo, presas de todos os sofrimentos da penúria e,
envergonhados de sua miséria, sem ousarem, eles que nunca mendigaram, implorar
a piedade dos transeuntes. Com o coração túmido de compaixão, eu, que nada
tenho, me fiz mendiga para eles e vou, por toda a parte, estimular a
beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e compassivos.
Por isso é que aqui venho, meus amigos, e vos digo: Há por aí desgraçados, em
cujas choupanas falta o pão, os fogões se acham sem lume e os leitos sem
cobertas. Não vos digo o que deveis fazer; deixo aos vossos bons corações a
iniciativa. Se eu vos ditasse o proceder, nenhum mérito vos traria a vossa boa
ação. Digo-vos apenas: Sou a caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos
que sofrem.
Mas, se peço, também dou e dou muito. Convido-vos para um
grande banquete e forneço a árvore onde todos vos saciareis! Vede quanto é
bela, como está carregada de flores e de frutos! Ide, ide, colhei, apanhai
todos os frutos dessa magnificente árvore que se chama a beneficência. No lugar
dos ramos que lhe tirardes, atarei todas as boas ações que praticardes e
levarei a árvore a Deus, que a carregará de novo, porquanto a beneficência é
inexaurível. Acompanhai-me, pois, meus amigos, a fim de que eu vos conte entre
os que se arrolam sob a minha bandeira. Nada temais; eu vos conduzirei pelo
caminho da salvação, porque sou — a Caridade. – Cárita, martirizada em Roma.
(Lião, 1861.)
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. XIII, item 13.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela postagem,seu comentário é muito importante para o aprimoramento desse nosso espaço fraterno.