Não vades ter com os gentios
Jesus enviou seus doze apóstolos,
depois de lhes haver dado as instruções seguintes: Não procureis os gentios e
não entreis nas cidades dos samaritanos. — Ide, antes, em busca das ovelhas
perdidas da casa de Israel; — e, nos lugares onde fordes, pregai, dizendo que o
reino dos céus está próximo. (S. MATEUS, cap. X, vv. 5 a 7.)
Em muitas circunstâncias, prova
Jesus que suas vistas não se circunscrevem ao povo judeu, mas que abrangem a
Humanidade toda. Se, portanto, diz a seus apóstolos que não vão ter com os pagãos,
não é que desdenhe da conversão deles, o que nada teria de caridoso; é que os
judeus, que já acreditavam no Deus uno e esperavam o Messias, estavam
preparados, pela lei de Moisés e pelos profetas, a lhes acolherem a palavra.
Com os pagãos, onde até mesmo a base faltava, estava tudo por fazer e os
apóstolos não se achavam ainda bastante esclarecidos para tão pesada tarefa.
Foi por isso que lhes disse: “Ide em busca das ovelhas transviadas de Israel”,
isto é, ide semear em terreno já arroteado. Sabia que a conversão dos gentios
se daria a seu tempo. Mais tarde, com efeito, os apóstolos foram plantar a cruz
no centro mesmo do Paganismo.
Essas palavras podem também
aplicar-se aos adeptos e aos disseminados do Espiritismo. Os incrédulos
sistemáticos, os zombadores obstinados, os adversários interessados são para
eles o que eram os gentios para os apóstolos. Que, pois, a exemplo destes,
procurem, primeiramente, fazer prosélitos entre os de boa vontade, entre os que
desejam luz, nos quais um gérmen fecundo se encontra e cujo número é grande,
sem perderem tempo com os que não querem ver, nem ouvir e tanto mais resistem,
por orgulho, quanto maior for a importância que se pareça ligar à sua
conversão. Mais vale abrir os olhos a cem cegos que desejam ver claro, do que a
um só que se compraza na treva, porque, assim procedendo, em maior proporção se
aumentará o número dos sustentadores da causa. Deixar tranqüilos os outros não
é dar mostra de indiferença, mas de boa política. Chegar-lhes-á a vez, quando
estiverem dominados pela opinião geral e ouvirem a mesma coisa incessantemente
repetida ao seu derredor. Aí, julgarão que aceitam voluntariamente, por impulso
próprio, a idéia, e não por pressão de outrem. Depois, há idéias que são como
as sementes: não podem germinar fora da estação apropriada, nem em terreno que
não tenha sido de antemão preparado, pelo que melhor é se espere o tempo
propício e se cultivem primeiro as que germinem, para não acontecer que abortem
as outras, em virtude de um cultivo demasiado intenso.
Na época de Jesus e em
conseqüência das idéias acanhadas e materiais então em curso, tudo se
circunscrevia e localizava. A casa de Israel era um pequeno povo; os gentios
eram outros pequenos povos circunvizinhos. Hoje, as idéias se universalizam e
espiritualizam. A luz nova não constitui privilégio de nenhuma nação; para ela
não existem barreiras, tem o seu foco em toda a parte e todos os homens são
irmãos. Mas, também, os gentios já não são um povo, são apenas uma opinião com
que se topa em toda parte e da qual a verdade triunfa pouco a pouco, como do
Paganismo triunfou o Cristianismo. Já não são combatidos com armas de guerra,
mas com a força da idéia.
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. XXIV, itens 8 a 10.)
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